segunda-feira, 14 de julho de 2008

"Manel, queres pão"?

Na época em que o sr. Manuel Alfredo do Covão criou os filhos, a vida era difícil por aquelas bandas. Não havia dinheiro para comprar nem sequer os bens mais essenciais.

Era necessário semear o milho para se poder ter o pão (broa) de cada dia e plantar as couves e as batatas que dariam alimento à família e animais domésticos.

Para cozinhar os alimentos utilizavam pinhas, carumas, gravetos, torgas, etc. Cortavam alguns pinheiros e faziam cavacas no Verão para estarem secas no Outono.

Os filhos do sr. Manuel Alfredo começavam desde muito cedo a ajudar os pais nestas labutas.

Antes de irem para a escola iam tratar as ovelhas e ordenhá-las. Quando saíam, iam pousar a lousa e o livro em casa, pegavam num naco de broa e azeitonas e corriam para guardar o rebanho que o pai já havia tirado do curral.

Os trabalhos escolares ficavam para fazer à luz do candeeiro de petróleo enquanto a mãe cozinhava a ceia.

Só se arranjava algum dinheiro com a venda da resina, mas esse só vinha depois da colheita e da entrega na fábrica.

Num certo dia de Outono chegaram uns compradores de lã e o sr. Manuel Alfredo, na mira de receber logo ali algum dinheiro, desfez-se em amabilidades com eles. Mandou-os entrar para a palheira onde estava guardada a lã da última tosquia, e disse para a mulher:

_ Ó Maria, traz alguma coisa que se coma!

A mulher foi logo preparar a broa, o queijo e a chouriça. O vinho estava na loja(adega), onde se comia a merenda.

Seguidamente ele disse aos filhos:
_Ó rapazes,quero essa lenha cortada e esses toros rachados, enquanto eu converso com estes homens.

Os filhos obedeceram às ordens do pai,mas o "Manel", o mais novo, como ainda não tinha forças para fazer o que o pai mandou, ficou por ali observando as visitas. Estas, miravam a lã enquanto a negociavam .

Quando a mãe veio com a merenda, ele ficou na loja, mas perto da porta, pois, se o pai ralhasse com ele...

Os homens saboreavam o queijo e a chouriça que a senhora Maria confeccionou e, como olhavam para o garoto, o pai disse em tom amável:
_"Manel", queres pão?

O menino respondeu prontamente, admirado com o tom de voz:
_ Quero, "si senhor"!

Então o pai, num tom áspero e forte, repetiu:
_"Manel", queres pão?

O garoto, baixou os olhos e disse tristemente enquanto ia saindo:
_"Na senhor".

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